Falaram-me um dia dos bebedores de Tempo.
Não creio que aí seja onde me arrumo.
Tenho sido o que da o Tempo a beber,
O dador,
O que a cada trago dado oscila entre a perfeição
E o vazio.
Cada manhã tem sido como a ultima
Do fim do mundo, ou a primeira
De uma nova quimera.
O perpétuo renascer das cinzas não é fácil
Quando ainda nem todas as faúlhas se extinguiram.
Hoje.
Pássaros metálicos,
Levantam voo outra vez,
Hoje. Com o cheiro do sol poente.
Alimentei-as com carne cardíaca e
Dei-lhes Tempo a beber.
Propaguei o paradoxo.
Cai-me pó no coração desusado.
Quero um novo espaço,
Novo tempo, e Tempo novo.
Sentir as sa
Saem dos dedos as palavras
A arder, a queimar a pele, deixando marcas de tempo.
Sibilantes e quase inaudíveis.
Colidem meias palavras, umas contra as outras e
Outras , e outras tantas mais
Que ainda assim não perdem sentido.
Pedras a cair na água, palavras no vazio,
No não-espaço,
No não-tempo que nos cerca.
Sabemos-lhes o significado, o étimo, mas mesmo não sabendo conferimos-lhes um,
Ou dois, ou dez. Usamo-las com hipocrisia.
Com sentimento de culpa, com amor, com beleza
Com a capacidade de dar-mos a tudo isso um sentido descartável.
Enterras a agulha, na veia. Injectas.
Deitas fora para que te esqueças que alguma vez
Os corpos tocam-se como quem trespassa com a mão para o outro lado do espelho. A realidade virtual e não virtuosa.
-A realidade não existe, sabes? Existe enquanto quiseres que ela exista, enquanto a pensares como tal. A partir daí não há fronteiras entre real e irreal. Dizes-me. Tudo pode ser real…ou não. Na verdade, duvido que alguém saiba o que é a realidade no seu estado mais puro. Irrealidades podem ser realidades, e decerto há realidades que se cruzam, um género de intercepções matematicamente calculadas
- Parece-me óbvio. Digo.
A casa está branca, hoje.
Abro as janelas e fumo um cigarro. O frio entra-me no corpo e tenho a ideia de q
Acordar do delirio de uma polaroid usada,
Como quem tropeça na agulha que acalma uma ressaca de vida
A fragilidade débil dos sentidos contrasta-me com o vigor de um Eu descampado.
Fim de tarde primaveril sobre o cadáver.
O óleo venoso sacia a sede dos lobos do teu corpo num demorado e cíclico ritual
Queimamos o dia em mistura de cigarros enquanto invento novas realidades,
que permitam a fuga deste onirismo mecanizado.
Ainda, e já, é Outono, e amareleço com as folhas que tardam a cair.
Demoras os olhos na chávena de café, no ultimo canto da ave,
Antes de morrer.
Metaforizo-me e metamorfoseio-te num punhado de sal,
contra o fogo.
ultimas manhas no fim do mundo by colapso, literature
Literature
ultimas manhas no fim do mundo
Acordo hoje, outra vez,
Com o insolúvel peso dos primeiros sinais de vida.
A corda que aperta o viúvo coração,
Agora suspenso, sobre o teu perene abismo
Com a ânsia de saber que me chega
Mais um dia
Em que te espero,
E de saber, que será mais um dia
Que me escassas.
Perco-me uma vez mais
Nos fatídicos monólogos de luz
Enquanto abandono com o olhar
A melancólica paisagem
das Aves.
O veneno aquieta-me os sentidos enquanto
O amanhã não chega,
E o ciclo se repete,
Nos olhos orvalhados da manhã.
quantas vezes tiveste vontade de acordar com a chuva a meio da noite?
quantas vezes pensaste que conseguias mudar alguma coisa no mundo?
quantas vezes rasgaste a pele,ainda que em pensamento?
já quiseste regressar de um sitio onde nunca foste?
já sentiste desejo de eternidade?
-Há dias em que sinto a vida a tropeçar a cada passo.
-Conheçes o vazio de um sono sem sonho? As vezes somos assim. Procuro-te com as mãos ébrias...
a noite consome-se rapidamente...a uma velocidade estonteante.
dormes com os braços esticados,os dedos etereos
a tocar a sombra de uma remota memoria.
esqueço-me no meu proprio silêncio
assim seja.
escrevia-te bilhetes
do sujo limiar do desejo
tentando desesperadamente que as mãos
encontrassem na caligrafia esses segredos
insondáveis
o papel amareleceu no esquecimento do teu corpo
o brilho dos olhos guarda
algo mais que lágrimas
vãs
que caem com o passar dos dias tornando-os
apenas manchas incolores
o papel amareleceu no esquecimento
construo o meu mundo tijolo a tijolo
a paredes falsas e ilusoriamente seguras
deixo lá dentro o sangue,o suor as veias
o coração
deixo-te a ti
traco-me lá fora,e perco-me.
o papel amareleceu ...
pernoito neste corpo uma vez mais co
outono cinzento. de sangue. de lágrimas. de nada...
quando o fogo já não queima.
arde, só
continuamente
até querer.
os gritos mudos já nada dizem, e o barulho das lágrimas tornou-se inaudível.
queria dizer-te algo, mas as palavras tornaram-se
amorfas.
se é que isso é possível.
Há noites, em que o néctar abunda nos lábios, e nos corpos ébrios, espalhados pela casa.
Talvez por isto a tua existência me pareça agora meramente carnal.
Continuas a criar as tuas ilusões, a tua distorção perceptiva e falta de inteligência e sagueza não te permitem ir mais além.
Sodomiza todos os teus pensamentos, actos e omissões. Fode-os com força.
Começas já a ser uma simples e obsessiva ideia deste meu intelecto catatónico – não quero que haja compulsividade que te valha.
Vou agarrar no teu mundo ilusório,de magia e contos de fada e pegar-lhe fogo.
-o fogo purifica-
Somos dotados de uma cegueira artificial, uma venda de estup
Contavas-me as estórias que te completavam,
As palavras
Que , consecutivamente te perseguiam
Eram agora minhas também.
Falavas-me com os lábios ébrios,de vinho e vida
e pela madrugada
as palavras já só atravessavam o silencio como quem morre devagar.
Eram esses os momentos que guardava
Nesta caixa cardíaca, que mostrava cada vez mais
A sua pequenez
"Tentar perder a memória" não será uma solução
Restam as imagens e as memórias amareladas
E este gosto amargo da destruição
De tudo o que podia ter sido
7/04
Ainda me rasgas sorrisos
Mas há dias
Em que são tão virtuais e etéreos
Quanto a minha existência.
A manhã
Chega dolorosamente e em vertigem ao corpo
Olho as paisagens do corpo, tento ver em concreto
Amordaçar os sentimentos,
ser pragmático
Mas é difícil quando a existência é amortalhada e queimada,
Fumada no arder da noite
- "resta-te o fumo"
Anda.
Saltar vedações,correr jardins,matar sonhos e destruir realidades,
Vamos semear vendavais,provocar tumultos,rir do destino.
Sufocar ideais,criar abismos, perder a memória e oferecer o medo de boca em boca
Anda.
Construiremos a nossa Babel.
O nosso apocalipse.
Vagueamos pelos jardins secos de Outono, e eu tentava que os meus olhos não te falassem ao ouvido. O barulho das folhas secas e mortas, ao serem pisadas , lembra-me a fragilidade da vida, e de tudo o que nela há.
É disso que também somos feitos, fragilidades…E equinócios cardíacos.
Bebe-se vinho. A ebriedade dos sentidos agrada-me.
Contam-se estórias, e ouvem-se histórias. Trocam-se palavras, sentimentos, olhares e gestos…daqueles que se entranham na alma, que te marcam na pele. Há uma estranha brisa no ar, um vento, que nos segreda ao ouvido, afastando-nos por algum tempo dos nossos solilóquios mentais.
Vai escurecendo, e não darias
- Trago nos braços a saudade, e na alma, o cansaço do viajante. Não sei a quem os deixar.
Enquanto esperava por coisa alguma vi uma mulher passar, carregava o filho nos braços como quem carrega o peso do mundo e gosta.Vi um homem passar, levava o sol no fundo do bolso do casaco de malha,e por isso sorria de feliz. Vi uma mulher passar, arrastava o corpo morto do marido e na alma levava as nódoas negras que ele lhe tinha deixado.Vi uma rapariga passar, levava ao peito o nojo da sua existência, e no olhar estava-lhe cravado o caos.
Vi-me passar. Levava nas mãos uma caixa, com o que restava da minha máquina cardíaca.
cmgc – 01/2005
Os dias marcam-me a pele como impressões digitais.
Escuta as palavras que me caem da boca , como o corpo do adolescente que cai do décimo andar , também elas têm a doçura da melancolia.
Há abismos.
Li um dia que a vertigem não é o medo de cair, é antes "o vazio lá embaixo que nos chama e nos atrai, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados"*¹ – e não sei onde me fez sentido, mas é certo que o fez.
Escuta, o vento que te semeia o caos, é também aquele que trará a bonança, a tranquilidade.
…Ou pelo menos eu quero acreditar que sim.
*¹Milan Kundera
cmgc – 01/2005
Amanheço tarde dentro do corpo fragmentado
Acorda-se com o peso de mil pores de sol, e a letargia ainda nos é intacta.
Enquanto fumo um cigarro penso não sei bem em quê, mas sinto-me perdido e vagamente anestesiado. Fico umas horas deitado na cama.
Imóvel.
Lá fora há vida. Sente-se,ouve-se e cheira-se. Transborda vida pela janela aberta,para dentro do quarto.
Levanto-me e fecho a janela, porque hoje não quero que nada me perturbe. Desenho a luz umas caras de boca rasgada. Hoje sinto-me como o quadrado do malevich, e atinjo o equilíbrio na ponta da navalha.
Olho ao espelho e não me reconheço, já passou muito tempo desde que o tempo, s
Tudo o que eu venha a escrever a partir de hoje é certamente uma décima do que se passa.
Um exemplo a que nem a palavra exemplo deveria servir por tão redutora imagem que poderá passar.
Digo-te que a música está em repeat mode.
Digo-te que os orgãos insistem espreitar boca fora.
Digo-te. Em silêncio.
E tudo o que poderei dizer não passará apenas de palavras a suicidarem-se boca abaixo.
Gasto imenso tempo a escolhê-las e depois celebram-me assim.
Dir-te-a muito mais. Mais.
Como a forma como as minhas mãos agrafadas se parecem com estátuas à espera de se quebrarem em si mesmas.
Como a forma como se formam nós na minha garganta.
Com
Aquilo que nuns dias me faz confusão, noutros pareço ignorar automaticamente. E isto não passam de confissões. É a verdade. Escolho com demasiado cuidado cada palavra que vai ocupar este espaço, para não ferir além do limite que acaba por variar consoante a imensidão que pertence a cada mesma palavra. Há tantos caminhos por que passar e nenhum me serve. Não estou a dizer que não me tenham aberto as portas mas nenhum me serve. O sentimento de pertença a um local é sempre aquilo que se procura no imediato, e assumo com toda a franqueza que aquilo que acho sempre por achar é o vácuo dessa mesma pertença. Vou-me repetir as vezes necessárias e não
abria um livro e o dedo indicador
percorria a tinta impressa na folha
na tentativa de arrastar toda a sua existência atrás.
o crime
seria apenas o de não mais pretender a invisibilidade.
eu nao existo aqui - p. final by MaryStone, literature
Literature
eu nao existo aqui - p. final
Às vezes torna-se fácil fechar a boca, os olhos, os punhos e forçar a força.
E falo-te de música uma vez mais. Daquelas que ajudam a expelir tudo o que se não quer e também o que se quer. Não entendes? Eu também não. A missão que me prende aqui será sempre, sem qualquer relutância, a de me tentar conhecer o melhor possível antes que me puxem pela mão e me façam iniciar a jornada do fim, do começo… do que não sabe se existe. Há aqui, nesta caixa, toda a vontade repartida por horas de cada dia de adormecer e acordar. E fazer isto tudo num movimento rotineiro para que alcance o momento de não pertencer a nenhum dos mundos. Habita também, sempre
os anos tornam-se séculos
e mesmo assim não acompanho
todos os passos que a minha
cabeça insiste em dar
à frente, não surgem imagens
será como viver com os olhos
cosidos e de ter de mentir
com todos os dentes que
se presenciam belezas
mais à frente ainda, o corpo
-este-
é comprimido e as últimas
imagens que surgem de aperto
nos ossos do tronco são todas
e ao mesmo tempo
nenhumas
escrever a vida é o mesmo que
escrever eternamente
e ninguém ser capaz de (nos) ler
nada é comum neste corpo que te ostenta
o desígnio criado pela carne saturada de
pequenas gotas de solidão e repúdio
o cantar que nos era harmonioso
é agora o silêncio crescente entre
respirações
tudo o que somos foi arrastado pelos anos
e
tudo o que se sente não tem extensão
nada nunca será comum nesta carne que
traz o mistério da paz e da violência – que somos
e
nós nunca seremos comuns – em nós
este é o sítio mais longínquo e ao mesmo tempo mais perto que alguma vez poderei alcançar.
este momento. este, agora e sempre. aqui que me perco dentro de consoantes e vogais a tentar desmistificar o meu ser. e o teu e o do outro, o de todos nós. no fundo escrevo-me escrevendo-vos a todos porque somos todos feitos de carne e osso.
alguns com mais sentidos, outros nem tanto. e este é o momento em que se arde pressentindo que nada nos fará quebrar. estamos quebrados em dois há muito.
tudo começa desde que se nasce e vai-se degradando até chegar ao período em que a idade é menor que toda a bagagem que o corpo suporta.
talvez como uma pessoa
Acordar do delirio de uma polaroid usada,
Como quem tropeça na agulha que acalma uma ressaca de vida
A fragilidade débil dos sentidos contrasta-me com o vigor de um Eu descampado.
Fim de tarde primaveril sobre o cadáver.
O óleo venoso sacia a sede dos lobos do teu corpo num demorado e cíclico ritual
Queimamos o dia em mistura de cigarros enquanto invento novas realidades,
que permitam a fuga deste onirismo mecanizado.
Ainda, e já, é Outono, e amareleço com as folhas que tardam a cair.
Demoras os olhos na chávena de café, no ultimo canto da ave,
Antes de morrer.
Metaforizo-me e metamorfoseio-te num punhado de sal,
contra o fogo.
olá.
tenho estado ausente, como alguns ja podem ou não ter reparado.
a verdade é que não tenho com muita disponibilidade para o d.A (e falo mais em disponibilidade que em tempo).
não tenho feito grandes updates à escrita, também. como tudo, é um processo natural, e nos ultimos tempos poucas coisas tem saido apesar de muita coisa se ter passado. os ultimos meses foram desde o nonsense à loucura à desilusão à euforia ao alcool às drogas à perda aos ganhos.
no fundo é so para avisar que ainda estou vivo, e vou passando cá quando puder e me deixarem.
um muito ob
pequeno update por duas razoes; primeira em forma de pedido de desculpas pela ausencia, mas o tempo nao dá para tudo ; e segunda, para publicitar o novo membro. o amigo, ~afonbamboo (https://www.deviantart.com/afonbamboo)
por ora é tudo.
espero-vos a todos bem, ou qualquer coisa parecida.
:)
às vezes um eufemismo acaba por nao o ser.
às vezes um eufemismo é mais verdadeiro que aquilo que é suposto esconder.
(...)
estes tipos queriam dizer exactamente aquilo que pediam.
queriam a Emily Dickson nua, de saltos altos com um pé no chão e outro em cima da secretária, dobrada para a frente e a enfiar uma pena de escrever pela racha
tinha que escolher a melhor maneira de arder
até que em mim nada restasse senão osso
e meia dúzia de sílabas sujas
calcinadas
bom dia.
Sei que vai ser repetitivo e talvez até nem leves a sério o que vou escrever mas sinceramente que volto aqui muitas vezes na esperança de haver algo novo para ler.
Ainda que não haja, volto a ler-te a ti e ao que de antigo já se apoderou da página. E é sempre tão bom.
Agradecida. Muito por todos os comentários que me fizeste. Li-os de muito bom grado... e é sempre bom saber que há quem compartilhe do mesmo e que pelo menos possa retirar prazer com as palavras que são escritas.